Em diálogo com a exposição silêncio noir, de Luanda Francine, apresentada na Casa do Comum entre 23 de Abril e 11 de Maio, propomos o programa de cinema ruído coral. São 4 sessões em que apresentamos um conjunto de filmes que, numa deslocação do olhar humano, revelam coexistências inter-espécie e surpreendentes modos de relação entre elementos naturais.
Sessão #2:
Diários del Margem. Notas sobre el miedo al fuego y al água, Ileana Dell’Unti (Argentina / 2021 / 16′)
O prazer ótico e sonoro é omnipresente. Todo um ecossistema é placidamente revelado em poucos minutos, e no momento em que se inicia uma viagem de barco até ao Campo do Cielo, Formosa, onde os Pilagás vivem em comunidade, a beleza tinge as viagens a partir do local flutuante. A ténue enunciação da protagonista (nunca é vista, mas é ouvida e ainda mais lida) formula apreciações que se esbatem no espaço, como se os planos gerais usados como gramática constante absorvessem as palavras, porque a força pictórica e a veemência sonora do registo impõem outras acentuações estranhas à linguagem e mais poderosas do que os medos confessados no título por quem está atrás da câmara. O que é ostensivo é a confiança de Dell’Unti em filmar; até os mosquitos escolhem um tom moderado sob as ordens do cineasta. (Roger Koza)
Diorama, Demetrio Giacomelli (Itália / 2017 / 86′)
O sapo, a cegonha e a andorinha.
O diorama narra o encontro
entre o homem e os animais selvagens nas cidades.
Através de actividades de observação
que levam os protagonistas
de três histórias para o reino animal,
revela uma dimensão íntima,
algo que não é imediatamente visível
mas que sempre fez parte da humanidade
e que só a alteridade pode
talvez só a alteridade possa restituir a sua verdadeira essência.