Os artistas participantes na exposição: “A arte como pulmão“ são de Gaza, nasceram e vivem em Gaza. Formaram-se com o artista sírio Marwan Kassab Bashi que organizava residências para jovens artistas de países árabes em Amã, na Jordânia, durante o verão.

Posteriormente, estes artistas decidiram trabalhar em conjunto em Gaza, participando também em workshops pontuais com artistas estrangeiros e colaborando regularmente com o Instituto Francês de Gaza onde expuseram frequentemente e com a Fundação Al Qattan que apoiou determinados projectos. Em 2000 fundaram o colectivo ElTiqa composto por sete artistas, vários dos quais expõem no GaMAH (Museu de Arte e História de Genebra).

Este colectivo abriu uma galeria de arte contemporânea e oficinas, criando assim um local de trabalho e troca de conhecimento e oferecendo um espaço de exposição. As instalações foram destruídas pelos bombardeamentos israelitas nas primeiras semanas da guerra. Notavelmente, apesar de todas as dificuldades enfrentadas ao longo de duas décadas, este grupo manteve-se unido e desenvolveu numerosos contactos na Palestina e no estrangeiro, para exposições, residências e, por vezes, com obtenção de vistos oficiais.

Para esclarecimento, os intercâmbios com Genebra e o cantão de Valais existem desde 2000, criando assim continuidade nas relações e a idealização de projetos conjuntos. Certas residências ocorreram  na Suíça, em França, na Itália, em Inglaterra. no Japão na Tunísia na Costa do Marfim na Índia,  ligadas a  exposições colectivas ou individuais.  Os catálogos foram impressos em Gaza mostrando, assim, o seu percurso artístico e permitindo arquivar o trabalho deste coletivo.

Há dois anos, ElTiqa foi convidado para a Dokumenta de Kassel. O trabalho e a persistência do grupo fizeram deles o coletivo de artistas mais antigo dos países emergentes. Esta ocasião, claro, significou reconhecimento e simpatia internacionais. Cada um deles continua a trabalhar quase diariamente, apesar das terríveis condições em que sobrevivem ou após os traumas e separações forçadas que alguns vivem ao serem forçados a abandonar Gaza. Esta geração de artistas, a maioria nascidos em 1973/1975/1980, trabalhou incessantemente com talento e engenho, durante 20 anos, e representou para os habitantes da Faixa de Gaza uma constante contribuição através do desejo de manter, a todo o custo, uma via artística e a inscrição de uma história.

A exposição que iremos apresentar é composta por reproduções de obras enviadas pelas redes sociais ou por Whatsapp. Estas obras foram produzidas desde o início da guerra e no Território Palestiniano da Faixa de Gaza. Os seus trabalhos são, portanto, a expressão e a relação quase diária que estes artistas mantém desde os primeiros bombardeamentos. É para eles a única possibilidade de dizer o que vivem e de preservar e proteger a sua sensibilidade, a sua linguagem, a sua ideologia, a sua memória dos acontecimentos cruéis e insuportáveis a que foram sujeitos. O desenho e a palavra tornam-se os garantes ilusórios de uma liberdade, de um momento de fuga que o ato de criar permite. Respirando sob as cinzas. Os desenhos tornaram-se cada vez mais ricos, refinados, transportando nuances e tempo. Muitas vezes são acompanhados de textos cujo conteúdo sublinha ou completa a imagem. Estas reproduções de obras são também uma expressão da situação. Os homens estão presos, os seus lugares apagados, as suas vidas truncadas, as suas obras sofrerão o mesmo destino, sobreviverão ou serão destruídos. As redes de contacto tê-los-ão dado a conhecer e as suas palavras terão, por isso, viajado. O silêncio não cobrirá tudo…