Nos últimos anos tenho vindo a entender a minha posição de artista como a de um objecto técnico, por sua vez sujeito às ferramentas a que tenho acesso e às que me cativam mais. Há aspectos do que faço hoje com a guitarra que são fósseis com uma década (riff minimalista, afinação aberta, feedback), e outros que demoram a articular-se intelectual e manualmente e acabam, acho eu, por me transformar. Talvez por andar a explorar a guitarra de 12 cordas eléctrica, acho que a música da Príncipe Discos finalmente me chegou às unhas. Não me admira, tendo em conta o meu deslumbre com todo o catálogo, e também que os percussionistas com quem colaboro me dizem que eu toco “a puxar pra trás”. Intuitivamente, “puxar” é para trás, para si; mas se é “puxar pra trás”, então talvez esteja a puxar para outrém? É certo que não o conseguiria sem essa música me ter aberto o caminho.

Entrada: 8€

imagem de Sara Rafael