Clube de leitura do comum – Um bom homem é difícil de encontrar, Flannery O’Connor
As personagens de Flannery O’Connor transcendem-se. Os seus pequenos defeitos são primeiro satirizados, ironizados e sublimados debaixo da lente de relojoeiro da escritora. Depois, sob o sol que lhes vigia os passos, confrontam-se com a violência inusitada do mundo. Por vezes, acolhem a graça divina e tocam o inefável, como se acedessem a um compartimento secreto dentro da sua alma. A brutalidade do mundo é o gatilho para esse salto transcendental e o leitor, facilmente aturdido nesses primeiros embates, terá por vezes de voltar atrás e reler: o que raio se passou aqui? Depois, talvez ponha o livro de lado. Ou talvez sucumba a essa atração sombria de continuar a ler, maravilhando-se com a economia da escrita, a sua precisão milimétrica, num cuidado ansioso pela sua próxima violência, ironia ou fulgor.
Celebra-se este ano (2025) o centenário do nascimento de Flannery O’Connor. Talvez seja uma boa razão, se não houvesse outras, para a ler ou reler; para revisitar uma escrita que, como os pavões da sua quinta em Milledgeville (Georgia), tem tanto de belo, como de tenebroso.
Esperamos por todos, no dia 20/11, 5.a feira, às 19:00, na Casa do Comum.